quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Rodopio.

Fui seduzido pela vertigem. O corropio embriagou-me, feriu-me. Deixo-me possuir pela multidão em gritos, pelas sombras. O fogo ainda me persegue, o coração ainda bate. O lascivo carrossel ainda anda, dirigido pelo sonho alucinado do teu querer. Um homem disforme exige que o acompanhe. Quero o girar do carrossel. Em volta, o tráfego ensurdecedor. Prédios em construção, uma sucata sombria capaz de destruir nossos desejos. Sinto as trevas escondidas pela cidade, preparadas para me consumirem dentro da sua mansão. Não existem palavras possiveis que digam o quão profundo pode ser o silêncio. No limiar da porta de teu quarto há um abismo que desconheces, mas procuras insistentemente. Uma mancha de tinta que sentes alastrar mas que, afinal, nem sequer está lá. Ansio por ti qual animal selvagem e desvairado, o calor do teu corpo faz-me ferver no meu próprio desejo. Repousas como um anjo envenenado e eu caminho trémulo por entre as ruínas e o lixo, seguindo um destino sem rumo.