quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Recordações.

Melancolia. Esse estranho sentimento apodera-se de mim com todas as suas forças. Dispara sobre mim um dardo envenenado ao qual não consigo fugir e acabo por me deixar possuir. Fico envolto em si. Pelas suas sombras e incertezas. Essa atroz nuvem descarrega sobre mim toda a sua água e afoga-me nas suas cheias homicidas. E que é feito de mim? Não sou senão seu servo, preso nos claustros do templo melancólico.
- Quero sair, deixem-me sair!
- Não! Lá fora há trevas, escondidas, à espera que saias para se lançarem sobre ti. Aqui estás seguro.
E sou invadido pela saudade que me atinge como que um punhal gelado, que eu sinto até osso. Sou um simples homem, embriagado por sentimentos desumanos. Não consigo pará-los. Todas as portas são apenas miragens. Todas as saídas insistem em alastrar-se e a multiplicar-se, embora tu não as consigas sequer ver. E eu? Eu continuo a querer sair, em vão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Carência.

Metáforas, mágoas. A noite já caiu. A única luz presente é a de uma lua cheia que me lembra de ti. Rondas-me, tal como a tormento, com a sua inocente vontade de provar o meu caixão. Corro desvairado pela rua, fugindo do lacrau que se quer apoderar de mim. Desfaleço em convulsões sísmicas que me transportam para a amarga solidão. Já nada é o que era. As memórias assaltam-me o cérebro quase demente que insiste em se abrir para prazerosos e obscuros deleites. Ensurdecem-me os teus gritos sufocados, assustam-me os vampiros escondidos nas sombras da nossa realidade. Sobe por mim uma dor que late. Arde-me o peito. Sinto-me transposto para o teu quarto, onde estás deitada que nem um anjo adormecido acariciado pelo medo. Não consigo mexer-me. Consigo ver o lacrau ao fundo. Sinto o seu perfume horripilante entrar-me pela alma e reclamá-la sua. Fico arrepiado quando o afiado gume se espeta no meu coração. Os suores frios assolam-me e aí que eu sei. O lacrau... és tu.