quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Rodopio.

Fui seduzido pela vertigem. O corropio embriagou-me, feriu-me. Deixo-me possuir pela multidão em gritos, pelas sombras. O fogo ainda me persegue, o coração ainda bate. O lascivo carrossel ainda anda, dirigido pelo sonho alucinado do teu querer. Um homem disforme exige que o acompanhe. Quero o girar do carrossel. Em volta, o tráfego ensurdecedor. Prédios em construção, uma sucata sombria capaz de destruir nossos desejos. Sinto as trevas escondidas pela cidade, preparadas para me consumirem dentro da sua mansão. Não existem palavras possiveis que digam o quão profundo pode ser o silêncio. No limiar da porta de teu quarto há um abismo que desconheces, mas procuras insistentemente. Uma mancha de tinta que sentes alastrar mas que, afinal, nem sequer está lá. Ansio por ti qual animal selvagem e desvairado, o calor do teu corpo faz-me ferver no meu próprio desejo. Repousas como um anjo envenenado e eu caminho trémulo por entre as ruínas e o lixo, seguindo um destino sem rumo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Divina penumbra.

Dos doces tempos passados restam solidão e a romaria
Aos defuntos gatos cuja silhueta
Reflecte no espelho de neblina
E sangram os espinhos da divinal rosa
Com as sofridas memórias de um amor cruel.

domingo, 30 de agosto de 2009

Respiro ódio.

Odeio o teu maligno corpo que me consome em seus sonhos.
Odeio o teu destilar de sensualidade que me apanha com suas mãos e me destrói o cérebro sem qualquer pingo de arrependimento.
Odeio a perversidade das tuas pernas que me cativam a um ponto incontornável.
Odeio o teu cabelo e a forma obscena de como o soltas.
Odeio-te luz mutilada que me guia pela noite enevoada.
Odeio-te minha rosa de espinhos que me arranca a carne das mãos.
Odeio-te morte lenta que me reveste de medo e me assassina docemente.
Odeio-te amuleto amaldiçoado que intoxicas de frieza o meu ser.
Odeio-te pérfido navio que uso para chegar à outra margem.
Odeio-te dissimulado punhal que se espeta no meu abdómen e se recusa a sair.
Odeio-te abismal fogo que me aquece até me consumir.
Odeio-te tépida noite que procura em mim a coragem para morrer.
Odeio-te selvagem satanás que agarras a minha alma e me levas contigo para as trevas.
Odeio-te subúrbio dantesco onde cresce o grotesco sofrimento animal.
Odeio-te meu amargo doce.