segunda-feira, 12 de abril de 2010

Intendente.

Lisboa, Praça da Figueira. A noite começa a cair. Duas prostitutas tomam a sua posição ao longo do passeio. À frente, no centro da praça, jovens encapuzados fazem silenciosas manobras de skate. Uma mulher deambula pelo passeio, somente acompanha por uma garrafa de vinho tinto já meio vazia. Um velho guitarrista pousa a sua guitarra e deixa cair a cabeça para a frente, uma jovem rapariga de cabelos ondulados e morenos coloca-lhe a mão no ombro, "sente-se bem?". Segue-se um silêncio até ao momento em que a rapariga se afasta. As pessoas cada vez se apressam mais com o iminente início de noite, ignorando os jovens indianos que lhes tentam cortar caminho para oferecer panfletos de um novo restaurante que abriu junto ao Politeama. Sigo pela Rua da Palma até à Praça do Intendente. De uma esquina, uma mulher de cabelo grisalho e ligeiramente ondulado chama-me. Sigo em frente, passando à porta dos bares onde dois dealers com ar vagamente ameaçador me fazem uma simples pergunta, "bolota?". Aceno negativamente com a cabeça. Ao fundo, vejo um homem com um fato castanho amarrotado e gravata já desapertada a falar com uma mulher que não tinha menos de 50 anos. Ar imperativo o dele, dizendo "anda comigo ali ao carro.", a sentir-se desejado. Ele que foi à zona interdita para se tornar em algo que nunca conseguiria ser.

domingo, 11 de abril de 2010

Ilusão.

Estou preso. E a culpa é tua, toda tua! Tu prendeste-me em algo que acabou sem sequer ter começado. Rasgaste-me a pele ao ponto de eu sentir esse gume, esse frio e terrível gume encostado na carne. E eu tento sair, eu tento quebrar estas correntes que não me deixam sequer mexer. Eu tento e não consigo. Larga-me, vil monstro do fogo! Sai de dentro de mim! Não quero sentir mais as tuas escaldantes escamas nos meus ossos.
Como é possível esta consumidora ilusão me ter parecido tão real? "Talvez tu quisesses que o fosse." Tudo o que quero é que pares de me consumir as entranhas, maldito! Mas não, tu não páras, tu não queres parar. E eu continuo a querer o impossível, continuo à procura de algo que sei que não existe. E, no fim, acabo por morrer. Em ti.